Transição digital a todo o gás in Jornal Têxtil

2020-11-20

Transição digital a todo o gás in Jornal Têxtil

Recorrendo a diferentes tecnologias e em diferentes áreas de negócio, as empresas da indústria têxtil e vestuário, como a Impetus, estão a acompanhar os tempos e a investir na digitalização do negócio.

Preocupada, desde a sua fundação, em manter-se na vanguarda tecnológica, a Impetus tem avançado com diferentes apostas no âmbito da digitalização, que cobrem os diversos processos da empresa, do design à produção e comercialização.
Investimentos importantes, sobretudo face aos factos dos últimos meses, como revela Ricardo Figueiredo, nos quais a empresa se manteve a trabalhar sobretudo para clientes mais focados no digital e onde o online permitiu colmatar, parcialmente, a quebra de vendas no retalho físico das marcas próprias. Apesar da incerteza que ainda ensombra a curto prazo e de esperar uma quebra do volume de negócios em 2020, o futuro pós-pandemia, acredita o administrador e segunda geração ao leme da Impetus, poderá trazer boas notícias, não só para a empresa mas também para a indústria em Portugal.

Como surgiu a colaboração com a Platforme, apresentada durante a conferência “Transição Digital na Indústria da Moda”?
No passado tivemos já algumas conversas com a Platforme, porque, por um lado, sentimos essa necessidade e, por outro, conhecemo-nos já há algum tempo. Já tínhamos algumas apresentações, tivemos a ideia de fazer um teste e depois surgiu este convite enquadrado num outro âmbito. Fizemos este projeto-piloto para testar e ver como a tecnologia funciona.

É algo que, na sua perspetiva, tem pernas para andar em termos de negócio?
O projeto em si tem muito interesse em várias vertentes. Por um lado, tem a parte da digitalização da biblioteca de materiais, ou seja, podemos fazer toda a digitalização dos materiais que utilizamos, das estruturas, dos vários padrões, e criar assim uma biblioteca que, muitas empresas, como é o nosso caso, tem fisicamente, mas que não é tão fácil para mostrar a um cliente. Foi uma das principais vantagens que identificámos. Depois tem o “digital comercial”, onde pegamos nos moldes, fazemos a modelação em 3D e escusamos de tirar fotografias, porque temos um produto muito próximo da realidade. Isso irá permitir ter um conjunto de gastos que deixam de existir, como sejam sessões fotográficas, que passarão a ser muito mais curtas. O facto de termos a modelação 3D e conseguirmos fazer as alterações de uma forma muito mais rápida, inclusive sem ter a peça física, traz uma agilidade muito grande a todo este processo. Temos depois também a outra parte, relacionada com o cliente. O cliente hoje pede uma amostra, amanhã pede outra amostra com um fecho diferente, a seguir pede outra com outra coisa qualquer. Não numa primeira fase, mas ao fim de algum tempo e de alguma mudança de hábitos dos clientes, poderemos ter uma solução para evitar grande parte destes custos
com as amostras, porque as pessoas vão começar a utilizar, a ver muitos dos protótipos dos seus produtos online e a tomarem a decisão de compra com base nisso e, em vez de pedirem quatro amostras, pedem uma.

Que vantagens reconhece neste tipo de tecnologia?
Acho que a grande vantagem é a versatilidade e com isso vem a questão da economia, que não será tão direta, isto é, terá que se fazer um trabalho com o cliente para ele diminuir o número de amostras. Só ao fim desse tempo, desse trajeto de mudança de hábitos, é que iremos conseguir ter essa economia. E neste caso específico, quanto mais pouparmos a nível de fotografia, impressão e produção das amostras, mais eficiente e amigo do ambiente
será o processo.

No caso específico da Impetus, terá mais interesse para o private label ou para a marca própria?
São prismas diferentes. Numa primeira fase, o nosso processo vai passar muito pela questão das marcas, até para ganharmos experiência, porque quando avançarmos com isto para um cliente de private label já temos que ter a solução mais que testada e estar à vontade com a tecnologia. Portanto, optámos por avançar com a marca até porque a dificuldade deste processo passa muito pela criação de novos modelos0, já que alterar os modelos existentes é relativamente simples. Como na marca temos as duas coleções e mais ou menos os mesmos modelos, que depois vamos alterando de uma coleção para a outra, optámos por começar por aí para um dia mais tarde avançarmos para os clientes de private label – aí será, à vontade, mais do que um modelo novo por dia.

O que tem sido feito dentro da empresa no âmbito da Indústria 4.0?
A Indústria 4.0 já está naturalmente no nosso ADN. Desde cedo que os meus pais procuraram trazer a última tecnologia e colocar a Impetus na vanguarda. No desenvolvimento do produto, à parte desta parceria com a Platforme, já desenvolvemos alguns modelos internamente com os nossos designers, para ir testando
e vendo os softwares que existem para o fazer. Na parte produtiva temos um projeto que se tem vindo a arrastar nos últimos anos, pela complexidade, que é a integração dos vários sistemas que temos internamente. Como somos quase verticais, à medida que fomos crescendo fomos tendo necessidade de um programa mais específico para o planeamento da tricotagem, um programa mais específico para o controlo da produtividade da confeção, etc. Apesar de termos desde início um ERP
transversal a toda a empresa, isso levou-nos a criar pequenos programas que permitissem uma melhor gestão de secções individualmente.
Começámos a sentir uma falta de uniformidade na informação dos vários sectoresda empresa. A pandemia, neste caso, até veio ajudar porque com a quebra do trabalho reforçámos o envolvimento da equipa neste projeto e, portanto, conseguimos dar um avanço significativo na substituição total do ERP. Temos o Dynamics NAV já desde 2005 nas áreas não-produtivas (comercial, logística, financeira e recursos humanos) e optámos por integrar tudo no Dynamics NAV – sabíamos, à partida, que isso ia criar uma maior dificuldade de customização, porque o Dynamics NAV não tem nenhum projeto integrado na fileira têxtil que consiga ter todas estas etapas como temos, e tivemos que fazer uma série de desenvolvimentos, o que também atrasou. Simultaneamente, a meio do projeto sentimos a necessidade de implementar mais rapidamente – estava previsto para uma fase posterior à do ERP – o sistema de planeamento integrado, também desde a tricotagem até à confe
ção e com uma visão global da fábrica.

E na parte comercial?
Na parte comercial aquilo que temos feito é muito a aposta na loja online, tanto B2C como B2B. Temos feito também as integrações com os marketplaces. No B2B implementámos, há cerca de um ano, um software que nos permite, além de outras funcionalidades, introduzir as encomendas offline, porque o nosso sistema trabalhava unicamente online. Apesar de parecer um retrocesso, a realidade é que, nem tanto em Portugal, mas em Espanha essencialmente e em França, por incrível que pareça, tínhamos muitos clientes para os quais queríamos introduzir as encomendas e não tínhamos cobertura de rede. Portanto, decidimos fazer essa alteração para um sistema que possibilitasse fazer essa gestão offline e que depois, quando se liga à rede, faz o carregamento do ficheiro. Temos ainda um desenvolvimento, também do portal B2B, mas a nível da marca, em que basicamente é uma loja online para os clientes de retalho.

Que benefícios tem a Impetus retirado dessas iniciativas de digitalização?
No desenvolvimento do produto, para já, ainda estamos numa fase muito embrionária. Fizemos algumas amostras, vamos passar agora para uma fase de protótipo já quase transversal a uma coleção e depois, se resultar, vamos avançar para as fases posteriores. Mas nesta fase ainda não conseguimos quantificar. Vai permitir, além das vantagens mencionadas, trazer novas pessoas e motivar algumas delas para virem para a têxtil, o que muitas vezes não era fácil porque o sector estava muito associado ao trabalho tradicional e com pouca inovação – com estes processos de digitalização e estas novas atividades conseguimos captar novas pessoas com outro potencial.

E na área comercial, já consegue ver ganhos?

A esse nível tivemos algumas alterações internas que atrasaram um pouco este processo de transição digital nessa área, apesar de ser uma aposta há já muitos anos. Mas os resultados estão à vista e hoje já temos uma fatia significativa das nossas vendas como marca através dos canais online. Temos feito cada vez mais integração com vários sistemas que permitem uma gestão mais eficiente de toda esta cadeia nova de clientes e os resultados são visíveis.

A pandemia veio acelerar a transição digital?

A pandemia, no nosso caso, veio beneficiar esta transição, veio aumentar o número de clientes que estavam dispostos a comprar online porque sentiram essa necessidade e issoteve alguma repercussão nas vendas. Não superou o impacto negativo que teve a quebra do retalho, mas teve um aumento significativo e isto revela-se não só pela nossa loja online, mas também pelos nossos clientes de private label que vendem através de lojas online. Nos últimos anos fizemos uma grande aposta nesse tipo de clientes, e aquilo que sentimos é que, na altura da pandemia, os clientes que nos estavam a colocar encomendas eram precisamente os que tinham negócios online – sentimos que eram os únicos que estavam a vender e que, mesmo com algumas limitações, conseguiam superar da melhor forma toda a questão da pandemia.

Quanto cresceram as vendas online nesse período?

Não consigo quantificar corretamente os outros canais porque não é uma análise direta, mas a nível da loja online duplicamos as vendas.

Qual é o peso do comércio eletrónico nas vendas da marca?

Neste momento deveremos estar nos 15%.

Como tinham corrido os dois primeiros meses do ano?

Por norma, no início do ano há uma fase que não é muito forte a nível de encomendas. Já é normal haver ali um decréscimo, não tanto em janeiro mas mais em fevereiro e março, apesar que, em 2019, tivemos um início de ano muito bom. Este ano, comparativamente com os anos anteriores, estava bom – estava abaixo de 2019, que tinha sido excecional, mas estava a correr dentro da normalidade e das projeções que tínhamos efetuado. Até que veio toda esta situação que fez cair as vendas drasticamente. Tivemos, por um lado, a questão das marcas, com as lojas de retalho que fecharam, tivemos um conjunto de clientes que suspenderam as encomendas, outros que cancelaram e outros que disseram “ok, vai-me entregando, mas tens que fazer alguns ajustes às quantidades da produção”. Conseguimos safar-nos, digamos assim, com alguns clientes que tinham negócios online, mas isso ainda não representa a maioria dos nossos clientes e não conseguiríamos viver só à conta dos clientes online.

Qual foi a ordem de grandeza0. da quebra causada pelo confinamento generalizado?

As quebras foram superiores aos 40%, depende muito dos meses e dos períodos comparados. Tivemos períodos piores naturalmente, mas deste período de confinamento até à retoma da atividade, estávamos nos 45%. 

Quatro meses de pós-confinamento, que análise pode fazer?

Em agosto e setembro, essencialmente, sentiu-se uma retoma, mas muito pela necessidade imediata dos clientes por terem cortado com as encomendas todas que tinham. Não me parece que seja algo sustentado. Apesar de ninguém saber o que pode ainda vir com a segunda vaga, acho que vai haver um movimento das marcas de pretenderem reduzir os stocks e, ao reduzirem, não vão ter a possibilidade de comprar os grandes volumes a que estavam habituadas na Ásia, porque lá ninguém lhes vai fazer pequenas quantidades, pelo menos até se adaptarem para isso. Mesmo nível de alguns produtos que não eram feitos cá, vão surgir indústrias para trazerem esses produtos para cá e nos tornarmos menos dependentes da Ásia. É o caso das máscaras. No nosso caso específico, quando tudo isto começou, mandei vir 20 ou 30 mil máscaras da China porque aqui não havia na altura. Hoje em dia já há um conjunto de empresas que compraram máquinas automáticas para fazer as máscaras e, neste caso específico, a autonomização é tão elevada que o custo de fazer aqui ou na China é “ela por ela”, porque o que conta é o investimento na máquina, não é o custo da mão de obra. Acho que a médio prazo, e se soubermos aproveitar isto bem, podemos sair até beneficiados, porque os clientes vão diminuir os stocks, vão querer respostas mais rápidas para não correrem o risco do empate de capital que tiveram durante o confinamento e que os assustou muito. Para produção de pequenas quantidades e grande diversidade, somos dos países que estamos mais habituados a isso. Se soubermos aproveitar, podemos sair beneficiados. Agora tudo depende de como correr esta segunda vaga ou de quando é que terminará esta pandemia.

A Impetus também encetou a produção de máscaras. Esta constitui hoje uma área de negócio para a empresa?

Inicialmente começámos numa ótica de apoiar a área dos equipamentos de proteção individual que não máscaras, ou seja, nas batas, manguitos, perneiras… E começámos a pensar desenvolver essa área muito mais numa ótica de apoio do que propriamente comercialização – chegamos a desenvolver algumas batas e alguns equipamentos que doámos, e, apesar das solicitações serem muitas, não quisemos avançar por aí como área de negócio. A questão das máscaras foi inicialmente numa ótica de fazer internamente para os nossos colaboradores. Fomos ajus tando os moldes e um conjunto de situações com os componentes da máscara, fomos testando, e os resultados que tivemos da certificação foram bastante positivos. Neste momento temos a máscara certificada para 50 lavagens e optámos por encarar isto como um negócio. Propusemos a alguns clientes de private label e estamos a fazer com a marca dos clientes. A nível de marca própria, também encarámos isto como uma oportunidade. Decidimos fazer uma máscara diferenciadora, com um conjunto de mais-valias a nível da respirabilidade, mas sempre na ótica de apoiar a nossa cadeia de valor, para a ajudar a superar isto, ou seja, não procurámos um canal diferenciado para a comercialização das máscaras. Além de durante o período de confinamento termos tido uma atitude de responsabilidade – oferecemos aos clientes de retalho a possibilidade de extensão do prazo de pagamento e 15% de desconto em crédito sobre a coleção que tinham recebido no início do ano e que ainda não tinham vendido –, optámos por entrar nesta área de comercialização pelos mesmo canais, de forma também a ajudar os retalhistas a superar um bocado a quebra que registaram.

Em termos de produção também veio colmatar alguma baixa?

Sim, embora isto depende muito da tipologia de produtos que temos. Nunca encarámos as máscaras como a salvação para tudo. Uma empresa não muda de um dia para o outro a totalidade da produção. Depois, a quantidade de máscaras que se fazem significa muito pouco a nível de acabamentos, porque mil quilos de malha dão muitas máscaras e, portanto, não podemos pôr a cadeia toda dependente de um negócio, que agora já se acredita que seja mais duradouro mas que, até há bem pouco tempo, ninguém sabia quanto tempo ia durar. Neste momento devemos estar com uma produção perto das 100 mil máscaras por semana, mas varia muito, dependendo da necessidade.

Foram feitos investimentos específicos para a produção máscaras?
Houve um grande investimento na parte das matérias-primas e do desenvolvimento do produto em si, ou seja, na pesquisa e em testes de não-tecidos. A máscara é fabricada em 100% polipropileno, tanto o não-tecido, como as partes externas em malha. Os acabamentos são efetuados na nossa tinturaria, com uma tecnologia que inativa o vírus. O outro grande investimento que realizámos foi na certificação de todo este processo: testámos em Portugal, no CITEVE e no ISQ; testámos
em Espanha, no AITEX; e em França, na DGA. Todos com custos naturalmente muito elevados – estamos a falar de um investimento, no total, perto dos 100 mil euros.

Que outros investimentos tem em cima da mesa?
Temos várias situações que a pandemia fez atrasar, tanto na área da digitalização, onde temos um projeto diferente em que iremos, em princípio, entrar unicamente como investidores, como também noutra área de produção têxtil, onde temos outro projeto que poderemos abraçar, mas ainda está numa fase muito embrionária. Temos igualmente outra nova tecnologia de produção em análise. São grandes projetos mas que, neste momento, estão em standby. Também depende de como correr até ao final do ano, porque a incerteza ainda é grande. Depois de chegarmos ao final do ano, e se houver alguma estabilidade, já estaremos em condições de avançar com grande parte destes projetos.

Qual é atualmente a quota de exportação da empresa?
Anda nos 97% ou 98%.

Que mercados compõem o pelotão da frente?
Os EUA no private label e também agora muito os países nórdicos, como a Finlândia, Dinamarca, Noruega e Suécia. Temos ainda a Alemanha, que é um mercado interessante. A nível das marcas temos um peso significativo em Espanha, França e EUA, numa aposta mais recente. Temos também o México, que
tem um peso interessante, para além de mais alguns mercados que temos desenvolvido, mas são operações mais pequenas.

Quanto representa a marca própria no volume de negócios da Impetus?
Neste momento devemos andar muito próximos dos 50%-50% entre a marca própria e o private label.

A meta é manter esse equilíbrio numérico?
Depende muito da tipologia. Há, naturalmente, uma grande aposta nas marcas e vamos continuar a fazê-lo. A ideia é que, a nível da área convencional, onde temos maioritariamente o underwear, grande parte da capacidade seja direcionada para a marca própria e para clientes que têm um crescimento muito rápido dado a especificidade técnica dos produtos que oferecem. E aí tem outro valor acrescentado. Estamos a redirecionar estes esforços para conseguirmos atacar especificamente
estes clientes. A área de negócio seamless, maioritariamente com desporto e workwear, será para manter.

Sentiu alguma mudança nos mercados onde a empresa atua na sequência da pandemia?
Falando dos mais penalizados não tenho dúvidas: Espanha. Foi um mercado onde sentimos uma maior dificuldade e continuamos a sentir, porque a quebra nos rendimentos também foi muito superior. Os EUA, onde trabalhamos mais em private label, teve uma retoma rápida e sentimos algum receio nas compras à
Ásia. São um mercado muito próprio e normalmente qualquer alteração é muito mais rápida do que nos outros mercados.

Quais são as perspetivas para este final do ano?
Para a Impetus, aquilo que esperamos, e estamos a trabalhar para isso, é procurar responder o mais rápido possível, para tentar agarrar todas estas encomendas de necessidade que os clientes vão ter, porque vão ter que repor os stocks. Começando a vender é certo que não vão fazer as compras na medida que faziam, mas vão ter que as fazer e, portanto, para responder de forma mais rápida e volumes mais pequenos, ninguém melhor do que nós. Agora, tudo depende de como a situação
da pandemia evoluir. Se não evoluir muito mais, podemos dizer que iremos recuperar uma parte da quebra que tivemos.
Deveremos fechar o ano com uma quebra de 10% a 15%, com um volume de negócios superior a 30 milhões de euros ao nível da Impetus individualmente. Por sua vez, o grupo ficará na ordem dos 50 milhões.

Em relação à indústria têxtil e vestuário nacional como um todo, que expectativas tem?
A questão para mim depende muito de como os empresários vão agarrar estes negócios. Se tivermos capacidade para reter estes negócios de oportunidade que vão surgir, de entrega rápida, a curto prazo, de pequenas quantidades, acho que Portugal vai sair beneficiado, porque grande parte das marcas vai sair da Ásia e voltar à Europa. A nível global, acho que isto levará a uma reindustrialização da Europa, ou seja, uma grande parte dos componentes vai passar a ser fabricada também
na Europa. Não será um movimento tão rápido, mas acredito que, a médio prazo, a nossa dependência face à Ásia vai diminuir e isso, naturalmente, é bom para todos.

Isso implica que a verticalidade produtiva da Impetus traz hoje mais vantagens?
A grande vantagem que temos com esta integração toda é o facto de o cliente comprar um produto e não se preocupar com mais nada porque há um responsável que domina o processo todo e que é capaz de entregar a melhor solução, no melhor prazo, com a melhor qualidade.

Ser a segunda geração num negócio desta envergadura pode ser um fardo ou é somente um desafio?
É um fardo e é um desafio. É um fardo muito grande pela componente social que sempre tivemos no nosso ADN: não temos aqui 900 funcionários [no grupo], temos 900 famílias que dependem da Impetus, e essa é a minha maior preocupação. Agora, é naturalmente um desafio dar continuidade e em tempos completamente diferentes de outros desafios que os meus pais tiveram. Neste momento, a evolução é muito mais rápida, as pessoas não estão tão preocupadas com um trabalho estável, para a vida, como estavam antigamente e, portanto, esse é um desafio que vamos ter, mais cedo ou mais tarde, porque encontra-se cada vez menos pessoas especializadas em confeção. Mas também só assim é que temos prazer, quando as coisas são desafiantes e temos que lutar para as conseguir é que damos valor. É um trabalho que naturalmente não vai ser fácil mas também vai dar muito prazer dar continuidade a algo iniciado em 1973.

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